Linchamento de dois negros
fugitivos - EUA - 1930
Como o preconceito
veio à bordo da maldade humana, após Caim assassinar seu
irmão Abel, não foi novidade o preconceito social encontrado
por Jesus Cristo em Israel. Quem não era da seita dos fariseus ou
de outros “doutores” da Lei, eram tidos como publicanos (cobradores de
impostos) e “pecadores”.
E na Idade Média, já
sob o domínio da Igreja Católica Romana, que distorcia todo
o cristianismo pregado pelos apóstolos do Cristo, era a própria
igreja a geradora do preconceito (ou intolerância, o que dá
no mesmo), contra os que não eram “beija-mãos de padres).
Os não simpatizantes do catolicismo viravam “feiticeiros” e iam
para a fogueira da “santa inquisição”...
Mas o mundo gira e muda e assim,
após a chamada Reforma, de Lutero e Calvino, a igreja católica
passa a concentrar sua intolerância religiosa nas Américas
Central e do Sul, a partir da Espanha e Portugal... e o resto da história
todos já sabem: igreja e homens sem caráter e maldosos e,
mais tarde os bandeirantes, a partir do Estado de São Paulo, iriam
assassinar, roubar os índios e tentar escravizá-los. A igreja
foi contra a escravização dos índios, mas acabou apoiando
a dos negros trazidos da África.
Caçador de escravos
índios no Brasil - Quadro de Debret
Nos países ditos mais “civilizados”,
como os EUA, o preconceito era inicialmente dirigido contra os índios,
na colonização do Oeste. Como aqui no Brasil, os índios
da América do Norte teriam suas terras roubadas e seriam assassinados
pelos cristãos americanos. A única diferença é
que no Brasil a igreja sutilmente deixava os nossos “cristãos”
roubarem e matarem os índios; e já nos EUA, os políticos,
em sua sanha ambiciosa, colocavam o próprio exército americano
para matar os índios. No Brasil os índios não opunham
resistência; já nos EUA, os índios lutaram com toda
sua força contra o domínio do cara-pálida. E, nos
dois casos, os índios acabaram assassinados ou em reservas (ou campos
de concentração disfarçados), com o governo criando
um órgão hipócrita para “cuidar” deles, como o extinto
SNI (hoje Funai), no Brasil.
Os índios da América
do Norte lutaram bravamente contra o domínio branco, mas
a superioridade numérica
deste último acabou prevalecendo - Quadro autor desconhecido
A Batalha de Little Bighorn,
quando Custer e sua Sétima Cavalaria são dizimados
pelos índios sob
os comandos dos líderes principais, Touro Sentado e Cavalo Louco
Só como observação,
até hoje não houve uma explicação para tal,
se os índios dos EUA lutaram, enquanto os nossos índios não
opuseram tanta resistência, os negros no Brasil império lutaram
muito mais contra seus opressores do que os negros da América do
Norte. Zumbi (desenho) até hoje é uma prova incontestável
disso.
Já na chamada Idade Moderna,
os chineses imigraram em massa para o EUA durante a colonização
da Califórnia em 1848. Como ainda acontece hoje com os imigrantes
nos EUA, eles eram relegados a trabalhos que o branco se julgava indígno
de realizar. E os chineses, pela sua passividade, eram até elogiados
pela imprensa americana, como ordeiros e inofensivos.
Em 1860, 12 anos depois, com a
chegada de mais brancos ao estado, os chineses começaram a sofrer
uma campanha preconceituosa, passando a ser vistos como traidores, criminosos
e viciados, ou seja, inferiores à raça branca dominante.
Este último fato,
que seria repetido no final da década de 30 pelos nazistas na Alemanha,
contra os judeus, mostra claramente a força do preconceito dentro
da Sociedade. A imprensa, gerida pelos “pilares cristãos da sociedade”
ou instigada pelo governo, criava imagens esteriotipadas, padronizadas
que nada tinham a ver com a cultura e peculariedades milenares do povo
chinês. Tais imagens distorcidas pela “força branca cristã”,
também seriam aplicadas aos portorriquenhos, negros, judeus e grupos
como os homossexuais.
No Brasil, após muita
polêmica, os homossexuais ganharam uma lei contra a homofobia
Portanto, tanto nos tempos antigos
como no moderno, pode-se ver claramente que o preconceito (que acaba conduzindo
ao ódio), é gerado por imagens distorcidas, por opiniões
superficiais, sem fundamento racional. De acordo com o filósofo
Jean Paul Sartre, o preconceituoso é um indivíduo sem opinião
própria, maldoso e estúpido. Sartre afirma que o indivíduo
preconceituoso não deseja o raciocínio; seu ideal é
um modo de vida em que a razão tenha apenas papel secundário
e, por este motivo, rejeita qualquer discussão séria a respeito
de suas atitudes, que na verdade exprimem maldade e covardia advindas de
temores difusos entre a população que levam a sentimentos
de medo e culpa ligados a uma criação distorcida pela maldade
de pais e avós ou por situações sócio-econômicas,
que talvez seja, como veremos mais à frente, as que dão mais
base para o nascimento de preconceitos, que vão desde os sociais,
raciais e religiosos até os profissionais, culturais e até
esportivos, como os de futebol no Brasil e na Inglaterra. Estes são
tão graves como qualquer outro preconceito, pois levam a confrontos
físicos e até à morte de torcedores, o que, tomando
por base a Inquisição na Idade Média e mesmo algumas
seitas evangélicas de hoje, quando “pastores”, imitando os fariseus
do tempo de Jesus na Terra, distorcem as Sagradas Escrituras, acaba criando
uma linha paralela entre preconceito e fanatismo. E ambos causam apenas
tristeza, destruição e morte...
De acordo com a psicologia, o adulto
preconceituoso não amadureceu em certos aspectos da sua personalidade.
Ao invés de enfrentar as dificuldades ou aceitar as próprias
deficiências, ele procura um culpado pela sua situação,
um bode expiatório, pertencente a um grupo diferente do seu, seja
pela cor, raça, religião, ideologia, etc. Quando o acha,
agride-o moral e fisicamente. A personalidade do preconceituoso caracteriza-se
pelo medo e pelo desconhecimento da causa desse medo...
E o indivíduo preconceituoso
sempre escolhe como seu “bode expiatório” o lado mais indefeso,
é claro, já que o preconceituoso, segundo os psicólogos,
é maldoso e covarde, tanto é que só age em grupos.
Suas ações solitárias e dissimuladas são somente
direcionadas às mulheres, seres indefesos dentro do local que deveria
ser um lar. E neste caso, já nem pode-se chamar de preconceito,
mas de pura covardia mesmo, já que o indivíduo descarrega
sua raiva e frustração na esposa e nos filhos.
Hoje, pelo menos no Brasil, com
a Lei Maria da Penha, alguns indivíduos já estão pensando
duas vezes antes de agredir sua companheira. Mas como algumas mulheres,
por medo, não denunciam seus agressores, as sórdidas e covardes
agressões ainda continuam no recôndito dos “lares”...
Etnocentrismo
Todo conjunto de preconceitos alimentados
por um grupo social em relação a outro que dele difere, recebe
o nome de etnocentrismo. Essa atitude etnocêntrica podia se ver nos
romanos, que rotulavam de “bárbaros” todos os que não pertenciam
à sua civilização. Povos europeus utilizaram o termo
“selvagens” com o mesmo sentido.
Quando esse fenômeno atinge
grandes massas populacionais, pode gerar consequências gravíssimas,
principalmente em situações de crise econômica, quando
o medo adquire proporções de pânico. As pessoas podem
ser guiadas para atender a interesses particulares, sem consciência
de estarem sendo usadas.
Isso ocorreu no colonialismo entre
os séculos XVI e XIX, quando as maiores nações, usando
ideologias discriminatórias e racistas, por motivos econômicos,
culturais e até biológicos, se sentiam superiores a outros
povos, o que levou nações inteiras a serem dominadas, saqueadas
e extintas, como os maias, os incas e astecas, como o extermínio
dos índios norte-americanos e como os índios brasileiros,
que de 5 milhões antes da colonização, foram paulatinamente
sendo reduzidos. Em 1996, todas as nações indígenas
no Brasil não passavam de 270 mil almas.
Os “civilizados” europeus, em justificativa
de transmitir aos africanos os nobres e elevados valores ocidentais, se
apossaram das riquezas e levaram o povo da África ao trabalho escravo.
Na Segunda Guerra Mundial, Hitler
e seu Estado Maior também usaram o medo econômico e a pregação
da “superioridade ariana” para acentuarem o preconceito contra ciganos,
homossexuais e principalmente contra os judeus, acusados de serem os responsáveis
pelos problemas econômicos da Alemanha. Apenas usando o preconceito,
os nazistas exterminaram 6 milhões de judeus!
Corpos de judeus amontoados
em Dachau, campo nazista de extermínio
No século dezenove, preconceitos
racistas constituiam (e ainda constituem, como veremos mais adiante), a
essência de determinados governos, onde os “diferentes”, embora libertos
do colonialismo e da escravidão, precisaram lutar pelos seus direitos
em nome dos ideais da liberdade, que estão na Constituição
dos próprios países onde vivem, mas não são
respeitados. Os “diferentes” são considerados iguais perante a lei
dos homens, mas o preconceito não os deixa ser iguais perante seus
compatriotas... A igualdade está apenas no papel!
Mesmo sendo norte-americanos
e após o fim da escravidão, os negros eram separados da
maioria branca, como mostra
a corda entre eles na foto dentro de um estádio
Nos EUA, ainda durante toda a década
de 60, e mesmo com o término da escravidão o preconceito
contra o negros era grande, principalmente nos estados sulistas. O assassinato
de 3 líderes estudantis em 1964, foi retratado através do
filme Mississippi em Chamas, que mostra as covardes agressões a
pessoas pacíficas apenas pelo fato da cor delas serem diferentes
da dos “brancos superiores”.
Robert Shelton, sumo sacerdote
da Ku Klux Klan, organização com traços nazistas,
que sempre alimentou o ódio racial e estimulou todo tipo de preconceito,
nessa época, dizia que nem ele nem sua organização
se dirigiam contra os negros, “desde que eles fiquem em seus lugares,
isso é, engraxando nossas sapatos e limpando nossas latrinas”, disse.
Kennedy, ainda senador
e ao lado, o reverendo Martin Luther King. Este foi assassinado por
motivos raciais e quanto
a John Kennedy, depois eleito presidente, até hoje não se
sabe
se seu assassinato foi pelos
mesmos motivos...
Outra prova incontestável
do desrespeito aos direitos humanos e que as nações ditas
civilizadas, menosprezam, oprimem e pisam sobre a igualdade entre os próprios
compatriotas, foi o Apartheid na África do Sul. Uma minoria branca
disseminou de tal forma o preconceito racial e fez um domínio ditatorial
tão grande, que as pontes no país eram divididas para a passagem
de brancos de um lado e negros do outro. O negro que fosse pego no lado
“branco” da ponte, pagava multa e podia até ser preso!
O apartheid durou de 1948
a 1994 e foi criado pelos sucessivos governos do Partido Nacional na África
do Sul, no qual os direitos da grande maioria dos habitantes foram cerceados
pelo governo formado pela minoria branca.
Reformas no regime durante a década
de 1980 não conseguiram conter a crescente oposição,
e em 1990, o presidente Frederik Willem de Klerk iniciou negociações
para acabar com o apartheid, o que culminou com a realização
de eleições multirraciais e democráticas em 1994,
que foram vencidas pelo Congresso Nacional Africano, sob a liderança
de Nelson Mandela (desenho), que se tornou presidente da África
do Sul. Mas além disso, Mandela foi herói africano.
Ele passou 27 anos preso por se opor ao regime do Apartheid.
Já contra a mulher, o preconceito
aparece em frases populares, obras de arte, códigos civis e religiosos.
A mulher só serve para procriar e cuidar da casa. Esta é
a síntese do preconceito contra a mulher. Mas se a mulher brasileira
nunca deu muita importância a esse preconceito básico, sofreu
(e sofre) horrores com as agressões físicas feitas pelo seu
próprio companheiro, sendo que muitas chegaram a ser mortas.
Outros que sofrem muito com o preconceito,
no sul dos EUA e em todo o Brasil, são os gays ou homossexuais.
Além disso, dentro do preconceito
social no Brasil, os nordestinos são as maiores vítimas.
São tanto excluídos como agredidos e isso acontece justamente
no estado de São Paulo, onde mais se concentram os nordestinos que
migraram da sua terra natal em busca de melhores condições
de vida.
Assim, o preconceito contra o judeu
continua até hoje, assim como contra homossexuais e negros. Contra
o judeu é um preconceito velado, já que depois da criação
do Estado de Israel em 1948, os israelitas (ou judeus, como são
comumente chamados), aprenderam a se defender, respondendo hoje de igual
para igual contra qualquer ação agressiva contra eles.
A Lei Maria da Penha , de número
11.340, foi criada em 2006 e contra a homofobia, foi criado o projeto de
lei PLC122, que criminaliza a discriminação por orientação
sexual. Contra o racismo existe a lei 7.716, de 1989.
Embora tais leis condenem a agressão contra a mulher, a homofobia
(contra gays) e protejam o negro, elas não eliminam a base de tudo
isso, que é o preconceito!
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